O Sindypsi PR acompanhou coletiva de imprensa da Sociedade Beneficente Muçulmana do Paraná em que duas muçulmanas curitibanas relataram uma série de agressões físicas e verbais motivadas pela islamofobia. Casos recentes serão comunicados à OAB-PR, à Assembleia Legislativa do Paraná e ao Conselho Estadual de Promoção à Igualdade Racial

Pedras, xingamentos, socos, cuspes e puxões nos véus são apenas algumas das agressões relatadas por muçulmanas curitibanas. Andar pelas ruas, buscar os filhos na escola e trabalhar são atividades cotidianas cada vez mais árduas para elas. Após uma série de agressões sofrida pela comunidade na capital paranaense, a Sociedade Beneficente Muçulmana do Paraná convocou uma coletiva de imprensa para esta segunda-feira (23) na Mesquita Imam Ali Ibn Abi Tálib, em Curitiba, com o objetivo de dar visibilidade à violência que o grupo vem sofrendo. A equipe do Sindypsi PR compareceu à coletiva e registrou o relato de Paula Zhara e Luciana Schmith Veloso sobre os ataques que, de acordo com elas, acontecem desde sempre, mas se tornam mais recorrentes quando o debate sobre o terrorismo e o Estado Islâmico ganha visibilidade na mídia e na imprensa.
No último dia 20, Luciana foi surpreendida por um homem que, ao passar por ela, voltou e arremessou uma pedra que a atingiu na perna. “Na hora, a gente não pensa, fica nervosa. Saí correndo e nem olhei direito pra ele”, relatou Luciana, que ressaltou ter descrença na efetividade de possíveis investigações sobre esse crime. A violência física é o ápice de uma série de agressões diárias, de acordo com ela. “Fora os olhares, os puxões de véus e os ataques via internet que disseminam ódio e fazem várias associações com o Islã que nós sabemos que não é verdade. É muito triste”, desabafou.
Paula reforçou que as agressões são de longa data. “Desde o dia 11 de setembro (dia do ataque às torres gêmeas do World Trade Center, em Nova York), os ataques que nós sofremos vão se sucedendo”. Os ataques físicos contra ela coincidiram com momentos em que o terrorismo estava em alta na mídia: a época da morte de Osama Bin Laden e do atentado contra o jornal satírico francês Charlie Hebdo, por exemplo. A última agressão sofrida por Paula veio à tona logo após o ocorrido em Paris no último dia 13. Ela andava pela rua quando um usuário do transporte público gritou, de dentro do ônibus, palavras de baixo calão e cuspiu em seu hijab (véu usado pelas muçulmanas).
“Hoje em dia, no Brasil e em Curitiba, se você sofrer preconceito racial, você vai se pintar de branco para conseguir ser aceito? Eu vou ter que tirar o meu véu para poder andar na rua? A mídia não pode mais coadunar com essa situação. A gente não pode mais sair com os nossos filhos na rua por causa do medo de ser agredida. Meu filho de nove anos não tem ido à escola porque ele está com medo. As pessoas falam que a mãe dele é mulher-bomba”, desabafa Paula com os olhos cheios de lágrima. “Nós temos o direito à nossa identidade, de demonstrar a nossa fé e de nos vestir da maneira como achamos certo. Não sei por que isso incomoda tanta gente”, acrescentou Luciana.
Tanta violência e intolerância que a comunidade muçulmana tem sofrido demonstram seus impactos na saúde mental das vítimas. Paula relata a dificuldade de superar as agressões e a maneira como elas a afetam emocionalmente. “Eu sou ser humano. Todos esses episódios que aconteceram comigo estão aqui, não descem, não dá pra digerir isso”, disse.
Resistência à islamofobia começa a ganhar corpo em Curitiba
Para o porta-voz da Sociedade Beneficente Muçulmana do Paraná, Omar Nasser Filho, o silêncio sobre as agressões precisa ser quebrado e a comunidade entrará em contato com a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil no Paraná (OAB-PR), com a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Paraná (Alep) e o Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial (Consepir). Omar ressalta que a mobilização do grupo não é por vingança, e sim para que as pessoas pensem duas vezes antes de praticar a Islamofobia.
Omar ressalta que as mulheres estão mais suscetíveis às agressões e ao ódio devido ao uso do véu, o que facilita a identificação delas como muçulmana. “Não bastassem todos tipos de violência que a mulher sofre em nossa sociedade, agora vivenciamos também a violência de caráter religioso e étnico”, relatou.
“Infelizmente, pessoas ignorantes, mal informadas e preconceituosas têm usado o noticiário como instrumento para poder extravasar o seu ódio. O Brasil não é um país do ódio, nós reafirmamos a nossa crença nas instituições do Estado brasileiro, na legislação brasileira, acreditamos no Estado de Direito e vamos usar daquilo que a lei nos oferece para não só penalizar aqueles que são os perpetradores desses atos, mas também para garantir a nossa segurança na condição de cidadãos brasileiros”, relata Omar.