Assédio moral no trabalho, um crime marcado por silêncio e sofrimento

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O Sindypsi PR produziu uma série de matérias chamada Chega de Silêncio para falar sobre o assédio moral no local de trabalho, crime que, apesar de frequente, ainda precisa de mais atenção. A primeira matéria aborda a natureza do assédio moral, suas consequências e como identificá-lo, além de refletir sobre os desafios para que essa prática seja superada. As outras duas matérias serão publicadas semanalmente e vão tratar do assédio moral sofrido pelas/os psicólogas/os, pelas mulheres e pelas pessoas LGBTs. Boa leitura!

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É difícil encontrar alguma trabalhadora ou trabalhador que não tenha vivenciado situações de pressão e constrangimento no ambiente de trabalho. A competitividade, o ritmo acelerado e as exigências do mercado muitas vezes são tratadas como características naturais do mundo do trabalho. Não raro, um determinado “limite” é violado e as trabalhadoras e os trabalhadores são expostos a situações constantes de humilhação. A estes casos se dá o nome de assédio moral.

O cenário econômico e político ressalta a preocupação com essa temática. Em nome da produtividade e da manutenção dos lucros, as empresas e corporações tendem a cobrar mais dos trabalhadores e das trabalhadoras em épocas de crise. Foi a essa resultado que chegou o Tribunal Regional do Trabalho do estado de São Paulo. Um levantamento feito pelo órgão aponta que o número de casos de assédio moral cresceu 47% em 2014 no estado de São Paulo. É importante que as trabalhadoras e os trabalhadores estejam atentos a algumas condutas para manter um ambiente de trabalho no mínimo saudável.

De acordo com três dos maiores estudiosos brasileiros de assédio moral, ele “é uma conduta abusiva, intencional, frequente e repetida, que ocorre no ambiente de trabalho e que visa diminuir, humilhar, vexar, constranger, desqualificar e demolir psiquicamente um indivíduo ou um grupo, degradando as suas condições de trabalho, atingindo a sua dignidade e colocando em risco a sua integridade pessoal e profissional”. A definição é de Maria Ester Freitas, José Roberto Heloani e Margarida Barreto, especialistas no tema.

A cartilha Assédio Moral e Sexual no Trabalho, publicada pelo Ministério do Trabalho e Emprego em 2013, pontua algumas condutas que podem ser enquadradas como assédio moral. Ameaçar a/o empregada/o quanto à perda do emprego, chamar de incompetente, desmoralizar o/a trabalhador/a publicamente, repetir a mesma ordem diversas vezes até desestabilizar a/o funcionária/o e espalhar boatos que atentem à dignidade do outro são atitudes típicas de um/a assediador/a.

O assédio como instrumento de gestão de pessoas

Fernanda Zanin, psicóloga especialista em saúde do trabalhador e integrante da Diretoria do Sindypsi PR  Foto: Annelize Tozetto
Fernanda Zanin, psicóloga especialista em saúde do trabalhador e integrante da Diretoria do Sindypsi PR
Foto: Annelize Tozetto

A psicóloga e especialista em saúde do trabalhador, Fernanda Zanin (CRP 08/15746), explica que a identificação de um caso de assédio moral é complexa pois, uma vez que essa prática é naturalizada, se torna difícil reconhecer o que deve e o que não deve ser permitido. Por outro lado, Fernanda alerta que são frequentes os casos em que a empresa utiliza a prática do assédio moral como ferramenta da gestão de pessoas.

“Algumas empresas organizam rankings dos trabalhadores que superaram, dos que atingiram e dos que não conseguiram cumprir a meta para, depois, em reuniões, obrigarem os funcionários que não chegaram à meta a dar o seu relato. Isso é uma exposição deliberada ao constrangimento. O assédio moral está banalizado porque muitas vezes ele faz parte da própria gestão de pessoas”, releva Fernanda.

Este ambiente emocionalmente caótico se manifesta de várias formas nas trabalhadoras e nos trabalhadores. A reação da vítima pode envolver tristeza, choro, baixa auto-estima, insônia, depressão, sentimento de inutilidade, vontade de vingança e, em casos mais graves, até ideias de suicídio.

Para Fernanda, parte dos trabalhadores tendem a incorporar certos discursos das empresas e dos empregadores, algo que pode aumentar a sensação de incompetência. “No Brasil, mesmo fora do ambiente de trabalho, há essa noção de que, se você não conseguiu, você foi incompetente. Temos muito forte aquela ideia de ‘tente outra vez’. É preciso parar e pensar até onde você pode ir e o que você vai permitir que façam com você”, ressalta a psicóloga.

Colocar-se no lugar do outro e olhar mais atentamente para que está ao lado é uma das dicas que Fernanda dá para as trabalhadoras e os trabalhadores, mas a psicóloga alerta: o enfrentamento ao assédio moral também exige uma mudança estrutural no mundo do trabalho. “Mudar o senso comum exige que se mude toda a estrutura desse sistema econômico que é meritocrático, marcado pela exigência de alcance das metas. Nesse sistema, se você não atingiu o objetivo colocado pela empresa, a culpa é sua. Se tivéssemos outra perspectiva, ou outro sistema, existiria também uma sensibilidade maior para esses casos”, defende.

Você está sendo exposta/o a alguma situação parecida? Saiba com quem entrar em contato:

Cartilha Assédio Moral e Sexual no Trabalho, do Ministério do Trabalho e Emprego
Cartilha Assédio Moral e Sexual no Trabalho, do Ministério do Trabalho e Emprego

Não pense duas vezes antes de entrar em contato com Sindicato dos Psicólogos do Paraná caso você esteja sendo submetida/o ao assédio moral. Conte com a gente para mais esta luta!

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