“É preciso muita organização e enfrentamento para a conquista de melhores condições de trabalho”, diz Raquel Guzzo

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Psicóloga, professora e integrante do Conselho Federal de Psicologia (CFP), Raquel Guzzo desembarca em Curitiba nesta sexta-feira (30) para conversar com as/os psicólogas/os paranaeses sobre o lugar da Psicologia na crise econômica que afeta o Brasil

psicologia em tempos de criseNesta sexta-feira (30), a psicóloga, professora e integrante do Conselho Federal de Psicologia (CFP), Raquel Guzzo (CRP 06/577) , estará em Curitiba para a palestra Psicologia em tempos de crise, organizada pelo Sindicato dos Psicólogos do Paraná em conjunto com o Centro Acadêmico de Psicologia da PUC-PR. A palestra integra a programação da Semana Acadêmica de Psicologia da universidade.

Graduada em Psicologia pela PUC de Campinas, mestre e doutora pela Universidade de São Paulo e pós-doutora pela University of Rochester, Raquel atualmente é professora titular da PUC de Campinas e discute a formação e intervenção profissional a partir de uma perspectiva crítica sobre temáticas como psicologia escolar e comunitária, indicadores de risco e proteção ao desenvolvimento da criança e do adolescente, psicologia social da libertação, avaliação e intervenções preventivas e psicossociais etc.

A equipe de comunicação do Sindypsi PR conversou com Raquel sobre a crise econômica que afeta o Brasil. Para a psicóloga, não há como falar de crise sem mencionar o momento que o capitalismo vive no mundo. “A crise nada mais é do que um mecanismo para que o capitalismo reequilibre seus próprios pilares de sustentação. Trata-se de um processo complexo que demonstra a dinâmica presente nas relações de produção e reprodução da vida, e se manifestam tanto na esfera econômica quanto nas relações entre as classes sociais”, aponta Raquel.

A crise econômica que vivemos hoje, segundo Raquel, é parte do desenvolvimento desigual e combinado do mercado mundial. O fluxo seria mais ou menos assim: para a sobrevivência de todos e todas, é necessária a produção de riqueza. Acontece que essa riqueza é produzida de forma coletiva, mas apropriada de maneira individual. “Fica, então, instaurada a separação entre aqueles que produzem a riqueza e os que detém os meios de produção”, explica.

E o Psicólogo nesse cenário?

Para falar sobre a Psicologia no contexto da crise, Raquel resgata o cenário em que a Psicologia surgiu no mundo. No Brasil, a regulamentação da profissão se dá em 1962 e, de acordo com Raquel, com a chegada da ditadura militar, “a formação da psicologia se reorganiza para o abandono das propostas mais sociais e coletivas de atuação e toma como predominância o modelo clínico e atendimento individualizante como práticas de um perfil profissional autônomo e liberal”.

Este cenário mudou nos últimos anos, de acordo com a professora. Hoje, a Psicologia adentrou as políticas públicas e está presente na Saúde, na Assistência Social e no sistema judiciário, fator que modificou severamente as características da categoria. “De profissional autônomo e liberal, (o psicólogo) passou a ser servidor público ou terceirizado e pauperizado em contratos vulneráveis geridos por instituições privadas que recebem recursos públicos para suprirem as carências do estado no atendimento à população, como é o caso, por exemplo, das instituições de Educação Infantil ou prestadoras de assistência”, pontua Raquel.

Quando interrogada sobre o papel da/o psicóloga/o no cenário de crise, Raquel demonstra algumas preocupações quanto ao conhecimento psicológico e à prática profissional da categoria. “Destaco a tendência de atribuir peso excessivo a fatores individuais para explicar comportamentos sociais ou a analisar problemas sociais como desajustamentos psicológicos sem levar em conta a estrutura econômica e classista do sistema social”, aponta.

Nem antes e nem depois da “entrada oficial” do Brasil na crise o psicólogo e a psicóloga foram devidamente valorizados, especialmente os do serviço público. Mas Raquel salienta que essa condição é não exclusividade das/os trabalhadoras/es da Psicologia. “Basta olharmos para a categoria de professores e outros profissionais que atuam na Saúde ou Assistência. Isso é uma demonstração inequívoca de que aqueles que ganham mais são profissionais que trabalham para o fortalecimento do capital, como funcionários de alto escalão em empresas, ou os que exploram a força de trabalho dos outros”, constata a psicóloga.

“A valorização de quem trabalha não é uma questão naturalizada ou dada. É preciso muita organização e enfrentamento para a conquista de melhores condições de trabalho.”
Raquel Guzzo

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